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sábado, 3 de novembro de 2012

Que nome se dá?

O DN, de hoje, traz um artigo escrito por Anselmo Borges, teólogo e filósofo, docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com o título Luto (s). As Lágrimas de Deus.

Fala-nos do luto como expressão da dor pela morte de alguém a quem muito queremos. E dos vários tipos de luto.

A meio da narrativa, pergunta ele: «para a morte de um filho nem há nome: quem perde o pai ou a mãe fica órfão, o viúvo ou a viúva perderam a mulher ou o marido; mas que nome se dá ao pai ou à mãe que perderam um/a filho/a?» .

Não há nome. Por isso, se diz: Inominável. E quem mo ensinou foi Paulo Teixeira Pinto, num poema que ele escreveu no dia do vigésimo terceiro aniversário do seu filho. Diz assim:

Inominável

I
Sabes
Chegou hoje
Outra vez
O dia do teu nascimento
Quero dizer
Do teu nascimento
Para esta vida terrena
Aquela mesma que
Viveste
Plena
De preces
E pressas
E por isso
Hoje é
A primeira vez
Que não estás cá
Para te dizer
Parabéns filho

II
Sabes
Primeiro
Veio
A dor do desgosto
Sem qualquer aviso
E depois
Com ela ficou
O inominável
Anunciando-se
Para sempre

III
Sabes
O inominável dói
Dói mais do que a dor
E o inominável
Nem nada é
Porque até
O nada
Pelo menos
Nome tem
Mas nome
Não há
Para um pai
Que perde um filho

IV
Sabes
De um homem
A quem falte
A mulher diz-se que viúvo é
Como a um filho
Que fica
Sem pai
Órfão
lhe chamam
Mas sabes
Nome ou palavra
Não há
Nem verbo
Nem substantivo
Nem adjectivo
Nem advérbio
Nem proposição
Nem conjunção
Nome ou palavra
Não há
Para chamar
O pai
Que não mais
Pode chamar
O filho.

Paulo Teixeira Pinto (1/11/2009)

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