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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Centenário do nascimento de João Villaret


No passado dia 10, João Villaret, se fosse vivo, teria feito justamente 100 anos. No Sábado passado, estive na Biblioteca Fernando Piteira Santos, na Amadora, onde teve lugar um evento, para comemorar esse centenário.

Os poemas (todos anteriormente declamados pelo João Villaret) foram agora ditos pelo Grupo de Jograis «U...Tópico». Foram 45 minutos de boa poesia (de Fernando Pessoa a José Régio). Deixei-me emocionar, não me envergonho de o dizer, por este poema:

Colegial

Em cima da minha mesa
Da minha mesa de estudo
Mesa da minha tristeza -
Em que de noite e de dia
Rasgo as folhas, leio tudo
Destes livros em que estudo,
E me estudo
(Eu já me estudo...)
E me estudo
A mim
Também
Em cima da minha mesa,
Tenho o teu retrato, Mãe!

À cabeceira do leito,
Dentro de um caixilho,
Tenho uma Nossa Senhora
Que venero a toda a hora...
Ai minha Nossa Senhora,
Que se parece contigo,
E que tem ao peito,
Um filho
(O que ainda é mais estranho)
Que se parece comigo,
Num retratinho,
Que Tenho,
De menino pequenino!...
No fundo da minha mala,

Mesmo lá no fundo a um canto,
Não lhes vá tocar alguém,
(Quem as lesse, o que entendia?
Só riria
Do que nos comove a nós...)
Já tenho três maços, Mãe,
Das cartas que tu me escreves
Desde que saí de casa...
Três maços - e nada leves! -
Atados com um retrós...

Se não fora eu ter-te assim,
A toda a hora,
Sempre à beirinha de mim,
(sei agora
Que isto de a gente ser grande
Não é como se nos pinta...)
Mãe!, já teria morrido,
Ou já teria fugido,
Ou já teria bebido
Algum tinteiro de tinta!

José Régio, in Encruzadas de Deus

2 comentários:

  1. Não me admira que te tivesses emocionado com este poema. Também não o conhecia. Como eu gostava de saber exprimir assim os meus sentimentos.

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  2. E eu também, Zé Luís. E depois dito pelo João Villaret...e por alguém que sabe dizer poesia. Por acaso, há dois anos, quando estive, com os meus amigos da leitura, na Casa-Museu José Régio, em Portalegre, eu atrevi-me a dizer este poema, foi justamente este poema, mas, como calculas, muito mal, muito mal. Foi só para marcar presença. O que importa é dizer.No meio de amigos é assim...uns melhor que outros...

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