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sábado, 19 de abril de 2014

O mundo mágico de García Márquez


Foi já tarde que conheci a narrativa de Gabriel García Márquez. Foi só no verão de 2007. Quando me reformei, os meus colegas ofereceram-me, entre coisas várias, um cheque livro para comprar livros na Livraria Bertrand até ao valor de €250,00. Finalmente, pude satisfazer uma ambição antiga. Entrar numa livraria com um imaginário carrinho do Continente e meter para dentro livros com o mesmo à vontade com que lá meto bifes e douradas.

Foi então que, de uma assentada, comprei uma carrada de livros. Um deles foi “O Amor nos Tempos de Cólera”. Isto foi no dia 6/8/2007. Li-o de supetão. Ainda nesse mês, no dia 29, comprei “Cem Anos de Solidão”. Devorei-o em 2 dias. 

E nunca mais parei. Li praticamente tudo. À excepção de um, “Viver para Contá-la”. Embora correndo riscos (nunca se sabe quem morre primeiro), este livro de memórias ficou para ler para depois da sua morte.

Gabriel García Márquez morreu no passado dia 17, numa Quinta Feira Santa. Ele partiu, mas ficam os livros que nos narram, de uma forma magistral, histórias que tanto têm de extraordinárias como de inverosímeis.

Então, a inverosimilhança das histórias narradas deixou-me fascinado. Como é possível alguém narrar histórias, ainda que assentes na realidade, tão implausíveis? Florentino Ariza esperou 53 anos, 7 meses e 11 dias pela mulher dos seus sonhos, Fermina Daza! 

Mais tarde, percebi este lado fantasmagórico dos seus romances ao ler o que o Garcia Marquez confessou numa entrevista. Conta ele que quando pegou em A Metamorfose, de Kafka e leu a passagem inicial, na qual Gregor Samsa, ao acordar, vê que se transformara num monstruoso insecto, disse a si próprio:”Então isto pode fazer-se?"

Pode e muito mais. Para quem já sonhava traduzir em literatura o modo como os relatos orais da sua avó integravam episódios extraordinários e implausíveis, a leitura de Kafka foi para ele um forte encorajamento.

E não mais parou, para nosso deleite. Obrigado, Gabo (permite-me esta familiaridade que reivindico como teu leitor quase compulsivo) pelas histórias maravilhosas que contaste.

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