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domingo, 27 de abril de 2014

Vasco Graça Moura, homem de letras


Morreu, hoje, Vasco Graça Moura. Escritor, poeta e tradutor. Não sei se foi o último artigo que ele escreveu para os jornais. Talvez. Por isso, deixo aqui um excerto desse texto publicado no jornal “Diário de Notícias”, no passado dia 16. Um estimulante texto a propósito de um livro que recentemente chegou às livrarias, a “Correspondência – Jorge de Sena e Mécia de Sena «Vita Nuova” (Brasil 1959-1965).

«Um monumento ao amor quotidiano

Há cerca de 50 anos, num livro pioneiro e luminoso, Andrée Crabbé Rocha lançou as bases essenciais para o estudo de um género literário pouco procurado e cultivado entre nós: Refiro-me ao seu livro “A Epistolografia em Portugal” (Almedima, 1965, IN-CM, 1985), que é um dos marcos decisivos da nossa história da literatura.

A variedade de peças recolhidas, apresentadas e comentadas dá bem para se ver o manancial de textos, uns com pretensão a literários, outros simplesmente “informais”, que existe nessa parte do nosso património literário. Não me deterei neles, que vão das cartas ao rei fazendo a reportagem de determinados acontecimentos ou dando-lhe conselhos, até às tão célebres quanto pouco interessantes cartas de amor de Pessoa (embora, noutras áreas, este autor tenha uma correspondência importante para a sua época), passando por textos da mais variada índole, entre eles a correspondência de Óscar Lopes com António José Saraiva.

O que me interessa é o aparecimento em livro de cartas de amor, como as de António José Saraiva, ou as belíssimas cartas de António Lobo Antunes para sua mulher, organizada pelas filhas do casal, “D’este viver aqui neste papel descripto - Cartas da guerra” (D. Quixote, 2005), situações em que problemas, emergências e sentimentos do quotidiano (ausência, saudade..) se manifestam com especial qualidade literária.

Mas, mais do que esses documentos, interessam, a meu ver, as edições em “espelho’, ou em diálogo, em que a correspondência provém dos dois lados: o destinatário da carta responde a esta e obtém nova resposta.

É o caso de um livro que acaba de me chegar às mãos e que acho fascinante. Refiro-me à Correspondência – Jorge de Sena e Mécia de Sena «Vita Nuova” (Brasil 1959-1965), editado pelo CITICEM /FCT e pela Afrontamento em 2013. […]»

Vasco Graça Moura, in jornal “Diário de Notícias”, de 16 de Abril de 2014

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