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sábado, 8 de novembro de 2014

A inspiração dos poetas e dos oradores

«Sem embargo da concomitância de tantas enfermidades, Calisto de Barbuda embaralhou as cartas, passou-as à esquerda, e jogou a primeira partida com tamanha incúria e desacerto, que Adelaide, no acto do pagamento da aposta, observou ao parceiro que era preciso administrar com mais zelo o dote da sua amiga.
E ajuntou:
- V.Ex. esteve a compor algum belo discurso para a câmara...
O morgado cacarejou um sorriso, e nada

Camilo Castelo Branco, in A Queda dum Anjo

A queda do anjo está próxima. Calisto Eloi, dantes um fidalgo austero e conservador, está já a deixar-se corromper pelo luxo e pelo prazer que impera na capital, para onde veio depois de eleito deputado por Círculo de Braga. Desta vez, perante tamanha incúria e desacerto no jogo, foi desculpado por uma voz amiga "V. Exª esteve a compor algum belo discurso para a câmara...". Ai, esta inspiração dos oradores!.....

Lembrei-me de uma história que o poeta Miguel Torga conta num Diário. Andando, um dia, à caça em S. Martinho de Anta, sua terra natal, o poeta falhou, inexplicavelmente, um tiro a uma perdiz. Logo, o seu companheiro e amigo de sempre, o padre da aldeia, motejou:
- Então, Doutor, falhou este tiro?
- Sabe, estava-se-me desenrolando um poema - desculpou-se o poeta.

Ai, esta inspiração dos poetas!... Dos poetas e dos oradores!

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