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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

"São Paulo", de Amarante

Acabei hoje de ler São Paulo, de Teixeira de Pascoaes. Li devagar, pausadamente, como quem lê a Bíblia.

As personagens bíblicos são sempre temas sensíveis, sobretudo quando o objectivo é explorá-las literariamente. Todavia, Pascoaes não teve receio de arriscar e, através deste livro, deixou-nos uma biografia singular do arauto do Cristianismo: São Paulo. Homem complexo, Paulo converteu-se num dos maiores crentes das palavras de um outro homem, Jesus de Nazaré.

Na estrada de Damasco, em plena caça ao cristão, a queda do cavalo e a luz imensa que o cegou por momentos deram origem a uma missão que poucos poderiam prosseguir. Dessa revelação, em que ecoaram perguntas fundamentais ("Paulo, Paulo... porque me persegues?"), surgiu um novo homem e uma nova esperança para a religião que grassava pelo Império Romano.

Depois de Paulo e das suas viagens pelos cantos mais recônditos de um Império que tentava reprimir as ideias de Jesus, o Cristianismo floresceu e espalhou-se pelo mapa. Pascoaes, à semelhança de outras biografias que constroem a sua obra (Napoleão, São Jerónimo, por exemplo), teve no seu "São Paulo" um ponto alto.

"São Paulo" foi publicado em 1934 e eu li pela 4ª (1984) - a última. Apenas 4 edições em 50 anos é muito pouco. E, todavia, este livro conheceu rapidamente um prestigio fantástico no estrangeiro, nos países nórdicos ou da Europa central. Em pouco tempo, as traduções multiplicaram-se, em alemão, dinamarquês, húngaro, checo. Estrangeiros vinham visitá-lo, com destaque para o seu grande amigo, o filósofo espanhol Miguel Unamumo, que escreveu um prefácio para esta edição.

Teixeira Pascoaes é um dos grandes escritores da Língua Portuguesa e, no entanto, injustamente esquecido (e isso é que mais dói) pelos seus próprios patrícios.

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