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segunda-feira, 6 de junho de 2016

Fernando Pessoa e o charadismo






Eu sou uma anthologia
Screvo tam diversamente
Que, pouca ou muita a valia
Dos poemas, ninguem dizia
Que o poeta é um somente

Fernando Pessoa, 17-12-1932




Ontem passei pela Feira do Livro de Lisboa e trouxe de lá "Eu Sou Uma Antologia-136 Autores Fictícios", da autoria de Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari, numa Edição da Tinta da China.

A lista de heterónimos não pára de crescer. A primeira investigadora foi Teresa Rita Lopes, que em 1990 elaborou uma lista de 72 personagens. A partir daí, essa lista vem aumentando: Michael Stoker propôs uma lista com 83 personagens. Mais tarde, Cavalcanti Filho compôs um elenco de de 127 nomes. 

Esta nova publicação apresenta-nos 136 nomes fictícios! Para a tornar possível, os autores tiveram de percorrer 30 mil folhas do espólio pessoano. Cada um dos 136 autores fictícios é apresentado com uma breve introdução, seguida das suas assinaturas fac-similadas.

Agora, vou falar da grande surpresa que tive na primeira abordagem ao livro.

Até ao dia de hoje, pensei que o Fernando Pessoa apenas criara um heterónimo para, através dele, se dedicar à participação em concursos de crosswords ou palavras cruzadas, promovidos por alguns semanários estrangeiros. Na correspondência amorosa com Ofélia Queiroz, ele refere-se constantemente ao «Sr. Crosse» e só em duas ocasiões a «A.A.Crosse».

Este heterónimo terá sido criado no ano de 1917, dizem agora os autores, quando Pessoa terá começado a enviar soluções para alguns semanários. De certo, sabe-se o que aparece referido na correspondência de 1921 com Ofélia e que, nesse ano, A.A. ganhou um prémio.

Os primeiros autores fictícios, que vêm referidos no livro, mostram-nos um Pessoa jovem, ainda em Durban, com cerca de 15 anos, muito dedicado ao Charadismo!  

O primeiro nome fictício chama-se PIP. No caderno mais antigo de Fernando Pessoa, utilizado entre 1900 e 1902, é referido um «Pip Secretary». Em ´Palrador", o segundo jornal fictício criado por Pessoa, PIP surge como um dos colaboradores da publicação literária, assinando uma charada. Este colabora ainda noutro jornal, "O Pimpão", no qual se publicam, sob pseudónimos, contos, epigramas, sonetos, diferentes tipos de charadas e de enigmas!...

Segue-se uma lista longa de nomes fictícios (personagens), não valendo a pena enumerá-los, todos nomes estranhos, mas contei, para além do PIP, que foi o primeiro em 15/1/1902, mais 22 nomes!

Os autores desta edição fazem uma descrição sucinta de cada um deles, apresentando as charadas por eles produzidas, dando a solução, quando encontrada, e nalguns casos a relação dos decifradores participantes. De real, apenas as charadas que se conhecem (sempre em verso), tudo o resto (o nome dos jornais, dos decifradores...) é fictício.

Deixo uma charada da autoria de Scicio, um dos autores fictícios. Se algum amigo tentar resolver, eu tenho a solução.

Charada (R) ao DiaboAzul.

Quem incita uma mulher,¹
Sem ella ter feito mal
De lição deve correr²
Uma tareia real.

Que ella cheia de loucura
Diz com o rosto encarnado:
“Patife! cavalgadura!
Indecente, malcreado!ª

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