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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Morreu Ferreira Gullar, o poeta do espanto


Morreu ontem, aos 86 anos de idade, o poeta Ferreira Gullar. É considerado, por muitos, um nome maior da literatura brasileira, poeta, escritor e ensaísta.

Foi distinguido com o Prémio Camões, em 2010.  

Ferreira Gullar foi um corajoso lutador contra a ditadura. É o autor do Poema Sujo, considerado uma obra-prima e um “ícone de resistência” à ditadura, escrito em Buenos Aires, quando entrou para o Partido Comunista Brasileiro no dia do golpe militar, em 1964.

É dele o poema TRADUZIR, que eu aprendi a gostar há muito:

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?


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